Com a violência cada vez maior que grassa nas cidades brasileiras, acabo por viver constantemente com medo e busco “entender” o que se passa.
Deste modo, vejo como é interessante o modo como as autoridades constituídas do país pretendem lidar com o problema da violência urbana.
Os governos, leia-se Federal e Estadual, resolveram, seguindo indicações de vários “movimentos” pretensamente bem informados e, segundo tentam passar, bem intencionados (será?), acabar com a violência simplesmente proibindo a venda legal de armas no Brasil, e dificultando ao máximo o porte dessas armas pelo cidadão ordeiro, considerando o porte de armas um crime inafiançável, ou seja, o cidadão, doravante, deverá confiar inteiramente nas autoridades para sua proteção, podendo ser considerado um “criminoso de carteirinha” se for pegado portando ainda que um simples canivete suíço.
Como cidadão, como advogado há várias décadas, fico estarrecido com tal tipo de atitude, principalmente quando analiso as “razões” apresentadas por nossos governantes para justificar tal atitude e, mais ainda, partindo de pessoas que, na década de 60, viam nas armas justamente a solução para os problemas do país e que agora, não se sabe porque, posam de pacifistas de primeira hora.
Dizem os governantes, por conta de “informações” a eles passadas principalmente por pessoas não muito confiáveis em seus “conhecimentos” sobre a matéria, que há um número elevadíssimo de vítimas de violência justamente por conta de armas compradas legalmente em lojas especializadas.
Às vezes fico aparvalhado com tamanha ignorância (será que é mesmo ignorância ou será hipocrisia?) por parte de pessoas tão bem preparadas.
Basta examinar as manchetes dos jornais, basta morar em um bairro como o que moro no Rio de Janeiro, a Tijuca, para colocar, no mínimo, dúvidas sobre a seriedade destes “pacifistas” em relação a tais informações.
Pela proposta do governo, somente poderão possuir (já não é nem mesmo portar) arma os militares da ativa, os magistrados e promotores, os policiais e os guardas de segurança de empresas tais.
O cidadão, doravante, passará a ser caçado implacavelmente pelas forças policiais em busca de armas de qualquer espécie.
Fica no ar uma pergunta: e quanto aos bandidos, vão ser deixados em paz?
Vamos tentar entender a (i)lógica destes gênios.
Tirando as armas do cidadão, certamente este não poderá mais reagir a assaltos e agressões e, por conseguinte, isto aplacaria a sanha assassina de nossos marginais.
Será mesmo isto que eles pretendem?
Vejamos o quadro REAL que temos nos dias de hoje.
Até onde sei, nenhum bandido compra armas em lojas, registrando-as, até porque, pistolas 9 mm, .40, .45, revólveres magnum (.357 e .44), metralhadoras 9 mm e fuzis de assalto calibres 7.62 e 5.56, que não são vendidos em lojas e, por coincidência ou não, são exatamente estas as armas padrão de nossa bandidagem.
Raramente vemos um revólver calibre .38 em mãos de assaltantes e homicidas e, quando os vemos, em sua grande maioria, são armas “confiscadas” pelos bandidos nos assaltos a bancos e outros e, neste caso, justamente dos guardas de segurança que, pela lei, poderão ter tais armas e portá-las, quando em serviço.
Desta forma, a não ser que eu esteja ficando muito burro (desculpem a palavra, mas é a única que definiria a situação), não será proibindo o cidadão de bem de comprar legalmente uma arma que se reduzirá a violência.
Por outro lado, vejamos o outro tipo de violência à qual estaremos à mercê.
Quando um homem como eu, com quase 68 anos de idade, sem uma forma física ideal, pelas horas e horas em que, por dever profissional, fui obrigado a ficar sentado em frente a uma tela de computador anos e anos a fio, tem a desventura de se defrontar com um desses “pitboys” da vida, tão comuns em nossos dias, ainda que tente evitar uma possível agressão fingindo não ouvir as provocações e as ofensas, possivelmente (é muitíssimo mais frequente do que se imagina), mesmo assim, será agredido fisicamente (já nem falo do lado moral), podendo mesmo vir a ficar com sequelas definitivas ou, até mesmo, ser literalmente trucidado pelo “gorila” sedento de mostrar sua superioridade física a qualquer preço.
Nestes casos, a única chance que temos é a que é dada pela restauração do equilíbrio de forças, ou seja, a possibilidade de intimidar o agressor com um tiro para o alto ou, caso necessário, até mesmo atirando no joelho ou no ombro do facínora, em total e claro ato de legítima defesa.
Se a população estiver sabidamente desarmada e indefesa, certamente a “valentia” desses bandidos crescerá, pois eles terão todas as vantagens: a juventude, a força física e a “coragem” vinda da certeza da impunidade e, muitas vezes, das drogas ingeridas antes (a maioria desses fanfarrões só se torna “homem” devidamente drogado e isto é público e notório).
Duas vezes vi, pela televisão, o quanto pode um idiota virar um “gênio” com meia dúzia de palavras e expressões de efeito.
A primeira delas ocorreu há poucos anos, quando a equipe de reportagem da Globo, com a repórter Glória Maria, passava em uma rua de subúrbio e resolveu gravar uma cena que se avizinhava violenta, quando três garotões, fortes e moços, visivelmente agressivos, tentavam forçar, à luz do dia, o portão de uma casa.
Estavam eles prestes a conseguir seu intento, pois já haviam entrado no corredor lateral da casa, quando surgiu um senhor, septuagenário, franzino, com um revólver Rossi, calibre .22, que efetuou vários disparos contra os celerados, pondo-os em fuga.
A repórter, estranhamente, mesmo depois de esclarecidos os fatos: eram 3 marginais fortes, vizinhos de um casal de septuagenários que, por não gostarem deles, pretendiam invadir a casa e sabe-se lá o que fazer com os velhinhos, obviamente com péssimas intenções, só não o conseguindo em razão da reação daquele senhor idoso que, mesmo com uma arma tão fraca, teve condições de se defender e de defender sua esposa, idosa como ele.
O que causou espécie nisto tudo, foi a repórter ter presenciado todos os fatos, ter visto a intenção agressiva e descontrolada dos três marginais – TODOS VIMOS PELAS CENAS GRAVADAS - de ter visto que a reação do velhinho foi mais do que justa e correta, mesmo assim fez um verdadeiro espetáculo de caras e bocas e de comentários contrários à violência .... do velhinho, não da dos marginais.
O outro fato, ocorreu mais recentemente, também poucos anos atrás, quando um policial militar, de serviço em Copacabana, foi avisado por um guarda municipal (este desarmado), que dois dos assaltantes de um banco estavam a menos de 5 metros dele, tentando fugir em uma moto, e que um deles havia acabado de deixar cair e recolocar na cintura uma pistola .45.
O militar, obviamente obedecendo às mais comezinhas normas de auto-defesa, abordou os dois assaltantes com um revólver calibre .38 em punho.
Neste momento, o marginal que estava armado com a .45, já montado na motocicleta da fuga, com seu comparsa como carona, tentou desarmá-lo com uma das mãos, enquanto tentava sacar a pistola com a outra, com evidente intenção de fuzilar o policial.
O policial, mais rápido, disparou várias vezes contra os dois marginais, matando-os, claramente em legítima defesa.
Tudo isto foi gravado em vídeo e visto por milhares de pessoas na TV-Globo.
Um cidadão, coordenador de um movimento denominado “Viva Rio”, que dizem ser sociólogo, ao ser entrevistado sobre o fato, saiu-se com uma “pérola” de imbecilidade ou de hipocrisia, condenando a atitude do policial e dizendo, quando posto em confronto com as imagens que mostravam claramente o risco do PM ser morto caso não agisse rápido, que ele deveria ter “atirado nas pernas” do marginal.
Somente um idiota pensaria, naquele momento, em usar da “tática” de atirar nas pernas de marginais armados para detê-los e, principalmente, utilizando-se de um mero revólver calibre .38, que, até para os mais leigos, não teria poder de parada suficiente para evitar que os bandidos, ainda que feridos, reagissem e o matassem.
Poder-se-ia até mesmo dizer que, como leigo, este cidadão tão crítico, não tivesse conhecimento técnico para saber de tal fato, porém, neste caso, estaria ele cometendo um pecado grave, pois, investido de uma autoridade dada a ele pela posição de representante de uma entidade como o decantado Movimento Viva-Rio e, mais ainda, diante de uma câmera de televisão, meio de comunicação tão eficiente para o convencimento do povo, como todos sabem, deveria ser mais comedido e imparcial em seus comentários.
Ou ele é um irresponsável ou alguém mal-intencionado, para quem, como tivemos experiências em passado próximo aqui no Estado do Rio, o marginal é “cidadão” e o povo trabalhador é que deve merecer as pressões da lei e das autoridades.
Entendo que os governantes não podem pensar em tudo, entendo mesmo que eles possam se sentir angustiados com tanta violência e, desta forma, tentarem soluções que não resistem à mais corriqueira lógica e bom-senso, porém, como governantes que são, detentores do destino do povo que os elegeu, deveriam ter mais cuidado com atitudes precipitadas e que, em vez de resolverem os problemas do povo, simplesmente os complicam ainda mais.
Chego mesmo a propor, dentro desta linha de non sense de nossos governantes, que criemos uma cidade somente para os marginais, onde seriam eles confinados e onde pudessem impor a lei do mais forte entre si, deixando o resto da população em paz.
Sugeriria ainda que tal cidade fosse justamente a nossa capital, Brasília, onde os marginais do restante do país ficariam livres, "donos do pedaço”, como dizem nossos irmãos paulistas, e onde eles pudessem exercitar sua violência entre iguais, trucidando-se mutuamente, e onde nossos “pacifistas” pudessem, como visitantes muito amados, tentar fazer valer suas soluções “maravilhosas”, certamente com muito êxito, já que “especialistas” em violência urbana que se consideram.
Longe de mim achar que entendo mais do que eles de violência, já que sou apenas um cidadão comum, que paga impostos, que é obrigado a votar, mesmo que não consiga encontrar um candidato digno de meu voto e, para quem devam ser dirigidas todas as obrigações da lei, já que, pelo visto, como nossas autoridades não conseguem dominar a bandidagem, fica mais fácil para elas dominarem o cidadão trabalhador, pois este não tem o poder nem a agressividade e violência interior suficientes para se impor, como os marginais têm.
Afinal, tenho o direito de entender que, quem protege bandido, bandido é e, pelo visto, nós, meros pagadores de impostos, é que estamos errados, pois nós é que temos que cumprir as leis, já que, para estas “grandes autoridades”, o assaltante, o estuprador e o traficante é que detêm, efetivamente, o poder nesta terra que tinha tudo para dar certo, dependendo apenas de quem a governe de forma correta, honesta e coerente.
O pior de tudo é que, com a CAMPANHA DE DESARMAMENTO que foi tão “badalada” em nossa mídia como um “sucesso” total, o que vemos, anos depois, é que a violência é cada vez maior e o cidadão está cada vez mais indefeso diante da bandidada.